O mercado financeiro brasileiro deve enfrentar incertezas até, pelo menos, as eleições presidenciais de 2026. Segundo gestores e ex-diretores do Banco Central, a falta de credibilidade fiscal e o cenário político afastam investidores estrangeiros e dificultam a recuperação econômica.
Um dos principais fatores de preocupação é o aumento das despesas públicas. Luis Stuhlberger, fundador do fundo Verde, criticou a trajetória dos gastos, que começou no último ano do governo Bolsonaro e foi ampliada pela atual gestão de Lula. "O Brasil quebra antes se o juro real permanecer em 8% ao ano por 10 anos. Algo terá que mudar: ou a mentalidade do governo ou o governo em si", alertou.
Mesmo com o arcabouço fiscal, a dívida pública continua subindo, sem sinais de estabilização. Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiuna Investimentos e ex-diretor do Banco Central, afirmou que a falta de confiança na política econômica tem mantido o país em um ciclo vicioso. "Se você acredita no arcabouço, a economia entra num ciclo virtuoso; se não acredita, entramos em um ciclo vicioso, e é isso que estamos vivendo", disse.
A pressão inflacionária também preocupa. Com o IPCA acima da meta de 3%, o Banco Central tem sido forçado a manter juros elevados, e projeções indicam que a Selic pode atingir até 16% ao ano. Títulos do Tesouro Direto já refletem essa tendência, com taxas prefixadas superiores a 15% ao ano e rendimentos de até 8% nos papéis atrelados ao IPCA.
O cenário atual é frequentemente comparado ao de 2014, período que antecedeu a recessão de 2015-2016. Andre Bannwart, gestor do UBS BB, alertou que, sem um ajuste fiscal eficaz, o Brasil pode enfrentar novas desvalorizações cambiais e um aumento acelerado da dívida pública. "A desaceleração da economia, sem uma política fiscal robusta, leva a mais gastos do governo, o que alimenta a inflação e cria um ciclo difícil de romper", explicou.
O dólar, que já se valorizou frente ao real nos últimos meses, pode alcançar entre R$ 6,20 e R$ 6,40 até o final do ano, segundo projeções do UBS BB.
Mesmo com o crescimento econômico próximo de 3% em 2023 e a inflação temporariamente controlada, a popularidade de Lula não acompanhou esse desempenho. Para Carlos Viana de Carvalho, estrategista-chefe da Kapitalo Investimentos, o agravamento do cenário fiscal pode impactar ainda mais a aprovação do presidente nos próximos meses.
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