Em participação na Brazil Conference, em Harvard (EUA), o ex-presidente Michel Temer (MDB) surpreendeu ao elogiar o Supremo Tribunal Federal (STF) por seu "esforço extraordinário para manter a democracia de pé". As declarações ocorrem em um momento delicado, quando o STF enfrenta acusações de perseguição política a opositores, especialmente após a condenação de Jair Bolsonaro e aliados por suposta "tentativa de golpe".
Temer, conhecido por seu discurso conciliador, evitou críticas ao STF e destacou o papel do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), como pilares do "equilíbrio institucional". No entanto, analistas questionam se o ex-presidente ignora o excesso de judicialização da política, que tem concentrado poder nas mãos do Judiciário em detrimento do Congresso.
"Tenho absoluta convicção de que ambos farão um belíssimo papel à frente do Legislativo", afirmou Temer, referindo-se a Motta e Alcolumbre. A declaração ganha relevância diante da pressão pela anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro – tema no qual o STF e o Legislativo têm posições divergentes.
Ao falar sobre o papel da oposição, o ex-presidente afirmou que "há um equívoco grave quando se tenta destruir quem venceu as eleições". No entanto, não mencionou o tratamento desigual dado pelo STF a aliados de Lula e de Bolsonaro, nem as suspeitas de lawfare contra figuras da direita.
"A oposição existe para fiscalizar, mas tentar destruir quem ganhou é uma incivilidade", disse. A fala pode ser interpretada como um recado tanto a bolsonaristas quanto a setores do PT que, no passado, promoveram narrativas de "golpe" contra governos adversários.
Sobre o governo Lula, Temer expressou preocupação com as "divergências internas", especialmente na área econômica. Embora tenha elogiado o ministro Fernando Haddad, reconheceu que há "certa dificuldade interna" no Palácio do Planalto.
"Vejo um cenário que não é útil ao país", alertou, em referência à falta de consenso sobre reformas necessárias. Temer ainda comparou sua gestão à de Dilma Rousseff, destacando que "fizemos as reformas necessárias e atuamos com harmonia" – uma crítica indireta à descoordenação do atual governo.
Enquanto Temer defende um discurso de "estabilidade democrática", crescem as críticas ao STF por sua atuação seletiva. O ex-presidente parece ignorar que o próprio Supremo tem sido acusado de minar a separação de poderes, especialmente com decisões que interferem no Legislativo e no Executivo.
Se, por um lado, o elogio de Temer ao STF pode ser visto como uma tentativa de apaziguamento, por outro, revela uma postura conformista diante do avanço do ativismo judicial. O Brasil precisa de equilíbrio – mas não à custa da submissão do Congresso e do governo a uma corte que age com viés político cada vez mais evidente.
Se a democracia depende de instituições fortes, ela também exige que cada poder cumpra seu papel sem excessos. O STF, sob o comando de Alexandre de Moraes, tem se colocado acima de críticas – e figuras como Temer, ao invés de questionar, preferem o elogio fácil. Enquanto isso, o Brasil segue dividido entre a judicialização da política e a fragilização do sistema representativo.
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