Juíza que mandou prender Leo Lins já condenou jornalista que revelou caixa-preta do PSDB e críticos de Alexandre de Moraes
A recente condenação do humorista Leo Lins a oito anos e três meses de prisão por fazer piadas marca um dos episódios mais alarmantes do autoritarismo judicial em curso no Brasil. A sentença, proferida pela juíza federal Bárbara de Lima Iseppi, lotada na 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, escancara a escalada repressiva que ameaça os pilares de uma democracia verdadeira: liberdade de expressão, humor crítico e jornalismo investigativo.
Iseppi não é novata em decisões controversas. Em 2020, determinou a prisão de dois homens acusados de ameaçar o ministro Alexandre de Moraes, figura central na atual campanha de censura sob o pretexto de combater a desinformação. Mas talvez seu caso mais emblemático seja a condenação do jornalista investigativo Amaury Ribeiro Jr., autor do livro *A Privataria Tucana*, a sete anos de prisão por suposta “violação de sigilo”.
O livro, lançado em 2011, revelou documentos que apontavam movimentações financeiras suspeitas em paraísos fiscais e o uso de empresas de fachada por figuras próximas ao PSDB, entre elas Verônica Serra, filha do então senador José Serra. A reação do Judiciário, ao invés de investigar os crimes denunciados, foi punir o mensageiro. Amaury foi tratado como criminoso por expor informações de interesse público — um claro ataque à liberdade de imprensa e ao direito da população de ser informada sobre os bastidores do poder.
A condenação de Leo Lins, assim como a de Amaury, não deve ser vista como fato isolado. Trata-se de um padrão sistemático de repressão, que busca amordaçar vozes críticas, intimidar o humor, neutralizar o jornalismo combativo e sufocar qualquer narrativa que escape do controle das instituições dominadas por interesses oligárquicos. Quando a piada se torna crime e o jornalista vira réu, não estamos mais diante de um Estado Democrático de Direito, mas de uma democracia tutelada, frágil e seletiva.
O Judiciário brasileiro tem atuado, muitas vezes, como uma instância política disfarçada de imparcial. Suas decisões reforçam a blindagem de setores privilegiados — como partidos tradicionais ligados ao imperialismo — e reprimem duramente qualquer tentativa de questionamento. Ao punir Leo Lins por fazer piadas, o Estado emite um recado preocupante: só é permitido o humor domesticado, que não incomoda os donos do poder.
Defender Leo Lins neste momento não significa concordar com todas as suas piadas, mas sim afirmar um princípio: ninguém deve ser preso por fazer humor. A democracia exige espaço para o dissenso, para o desconforto e para a crítica, inclusive a crítica ácida, impopular ou provocadora. A liberdade de expressão não pode ser privilégio de uns poucos alinhados ao regime — ela é direito fundamental e inegociável.
A condenação de Leo Lins é um ataque frontal à liberdade de expressão e deve ser combatida por todos os que ainda acreditam em uma democracia autêntica, plural e sem censura. É hora de denunciar a instrumentalização do Judiciário, exigir justiça imparcial e reafirmar o direito ao humor como parte essencial da vida democrática.
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