Com uma trajetória marcada pela escuta ativa da população e o compromisso com a transformação da realidade local, o vereador Luiz Vieira se consolida como uma das vozes mais atuantes da Câmara Municipal de Vinhedo. Em entrevista exclusiva, ele conversou com a jornalista Gabriela Angeli sobre os desafios da cidade, os projetos em andamento e a urgência de aproximar a política da vida das pessoas.
Nas sessões da Câmara Municipal, é nítido que você sempre traz ao debate pautas que vêm da população. Como tem feito isso no seu mandato?
Luiz Vieira: acredito profundamente nessa aproximação. A política hoje está desacreditada, e é justamente por isso que faço questão de estar próximo da população. Não me considero político no sentido tradicional da palavra. Sou um cidadão que está cumprindo a função de vereador. Minhas ações partem da indignação do Luiz cidadão, e não do estar político.
Mantenho uma rotina ativa e permanente, visitando todos os bairros, apresentando aos moradores a prestação de contas do meu mandato e mantendo canais permanentes de escuta. Por exemplo, o número de WhatsApp que todos têm acesso é o meu mesmo. Se temos a oportunidade de trabalhar pela população, que seja para melhorar o lugar onde a gente vive.
Você foi o vereador mais bem votado da cidade. Como isso influencia seu trabalho?
Luiz Vieira: tive uma votação expressiva, sim. Isso aumenta a responsabilidade. No mandato anterior, entrei como suplente do vereador Rodrigo Paixão. Desde então, a força que recebi da população me deu ainda mais motivação.
Agora, eleito com o maior número de votos da atual Legislatura, carrego esse compromisso com muito empenho. Tenho procurado passar por todos os pontos da cidade, especialmente os mais vulneráveis, atendendo e propondo soluções. Esse é meu principal foco: ouvir e buscar atender ao que o povo quer para a cidade.
Falando da escuta da população, um dos principais temas de preocupação em Vinhedo é o abastecimento de água. Como você tem visto essa questão no Legislativo?
Luiz Vieira: Há muitos anos Vinhedo enfrenta um chamado “estresse hídrico”, um cenário típico de cidade que cresceu rapidamente e sem planejamento. A infraestrutura da cidade, tanto de saneamento quanto de preservação ambiental, não acompanhou esse crescimento desenfreado.
Atualmente, temos perdas de água tratada na tubulação na ordem de 28%, entre perdas físicas e não físicas, e 15% do esgoto gerado ainda não é coletado. A "produção" de água - essencial à sustentabilidade da cidade - está comprometida porque não há um plano de regeneração das nascentes. Pelo contrário, já tentei barrar uma obra da Prefeitura que soterraria nascentes e não tive sucesso. As represas existem e foram construídas novas, mas não serão suficientes se não cuidarmos das áreas de preservação. A cidade cresceu, e com ela cresceu também a pressão sobre a estrutura de serviços públicos e, principalmente, os ecossistemas naturais.
Como está a infraestrutura de abastecimento?
Luiz Vieira: temos problemas sérios. Algumas obras importantes estão sendo realizadas, mas ainda não resolveram todas as dificuldades. O reservatório da ETA 1 dá conta do volume de operação exigido, mas isso não resolve tudo. Boa parte da cidade, como o Centro, tem abastecimento escasso e depende do ribeirão Bom Jardim, que também abastece Valinhos. A região da Capela, por exemplo, é abastecida pelo rio Capivari e seus afluentes, e enfrenta carências profundas de infraestrutura sanitária, com muitos vazamentos diários. Esses são alguns exemplos da falta de controle sobre o crescimento urbano de Vinhedo.
E isso traz ao debate outro assunto: o Plano Diretor, que está atualmente em revisão. A revisão deveria ter acontecido em 2016, mas já foi barrada várias vezes por iniciativas populares numa tentativa de impedir a descarada interferência da especulação imobiliária no processo. Isso foi muito importante, porque se a revisão tivesse ocorrido sob a pressão da especulação, a cidade já teria ultrapassado o "ponto de não retorno" do abastecimento de água. A revisão atual já teve 24 reuniões abertas realizadas e foi prorrogada por mais 300 dias. Ela ocorre em um momento diferente, em que o Prefeito foi "obrigado" (porque não havia outra opção) a editar um decreto freando os loteamentos. Hoje, ninguém tem condições de negar que Vinhedo precisa organizar seu crescimento e regenerar seu meio ambiente.
E nessas reuniões, o que você tem percebido dos moradores?
Luiz Vieira: o maior medo da população é perder qualidade de vida e ficar sem água. É perceptível que esse crescimento não se dá por aumento populacional decorrente de nascimentos. Está 100% induzido por decisões políticas.
Passando para outro tema bastante polêmico e que já foi assunto de debates acalorados na Câmara, você tem defendido a Tarifa Zero no transporte público. Como isso funcionaria na prática?
Luiz Vieira: a proposta é ousada, mas viável. No Brasil e no mundo todo, cidades com o mesmo porte populacional, tamanho territorial e disponibilidade orçamentária de Vinhedo já conseguiram implementar. A ideia é tirar o custo do transporte diretamente das costas do usuário. Com apoio de um especialista, apresentamos um estudo com estimativas de investimento e análise de viabilidade para a implementação do transporte gratuito em Vinhedo. O X da questão é mudar o cálculo de custo do contrato: ao invés de calcular o preço de uma linha pelo número de passageiros que ela irá transportar, deve-se calcular pelo número de quilômetros a ser percorrido.
O custo aproximado seria de R$ 10 milhões por ano (com "margem de erro" de R$2 milhões), o que representa 1% do orçamento municipal. O recurso existe, é uma questão de prioridade. Poderíamos realocar valores de outras áreas, como da reforma do Portal, onde foram investidos R$13 milhões. A Prefeitura poderia criar, ainda, um fundo específico para isso, com participação de empresas por meio do Vale Transporte. Já tentei levar a proposta ao prefeito, mas, infelizmente, ainda não tive abertura direta com ele para tratar do assunto.
Na saúde, o que você tem visto de mais crítico neste momento?
Luiz Vieira: a situação é grave e acredito que este é o principal desafio da cidade. Falta de medicamentos devido a problemas com fornecedores e licitações. Consultas e exames estão com prazos de espera entre 7 e 12 meses. Em algumas especialidades, como fonoaudiologia, a fila é de até 9 meses. Meu gabinete está produzindo relatórios públicos sobre cada equipamento. Estamos visitando unidades como o Pronto-Atendimento, o CASM, a Policlínica e outras. A saúde mental também é uma área muito crítica. É um segmento no qual precisamos de uma política de cuidado integral mais presente e mais forte.
Falando de saúde mental, você também tem falado muito sobre a causa da neurodivergência, em especial o autismo. Como está essa pauta e o atendimento na cidade?
Luiz Vieira: uma das maiores adversidades dessa pauta é a ausência de um cuidador escolar, que hoje é a falha mais comum na Rede Municipal de Educação. Existem dezenas de mães cobrando, com razão, mais acessibilidade e acompanhamento adequado.
Também participo ativamente dos conselhos e tenho cobrado mais projetos voltados às escolas, especialmente à primeiríssima infância. Muitas vezes, o diagnóstico precoce de transtornos é perdido por falta de estrutura nos equipamentos públicos. Por isso, precisamos de uma política pública municipal para cuidar integralmente da criança neurodivergente, com diagnóstico precoce, suporte educacional e inclusão plena dela e da família. Hoje, Vinhedo tem uma carência enorme de atendimento e atenção nesse segmento. Tenho bom diálogo com instituições importantíssimas conveniadas com a Prefeitura, como o CEIVI e o LarCAB, mas elas estão sobrecarregadas e as filas podem aumentar cada vez mais. Diante dos desafios de hoje, precisamos repensar a rede de atendimento.
Uma questão que, em Vinhedo, é historicamente problemática é a zeladoria. Qual é a leitura do seu mandato em relação a isso?
Luiz Vieira: a população reclama muito, pois a zeladoria urbana é insuficiente. Há muitos terrenos com mato alto, tanto em áreas públicas quanto particulares. São áreas que levam mais de três meses para serem limpas, a partir da data da notificação. Até que a limpeza seja feita, a população do entorno sofre com insetos, aranhas e dengue. Apresentei um projeto recente que reduz o prazo de limpeza de terrenos particulares para 7 dias. A ideia é responsabilizar também imobiliárias e particulares, diminuindo o prazo concedido após a notificação. Também tenho fiscalizado os contratos que envolvem as empresas que prestam serviço nessa área.
E a iluminação pública de Vinhedo, como está?
Luiz Vieira: o parque de iluminação pública de Vinhedo está muito defasado. O contrato com a empresa que deveria modernizar o sistema começou em 2021, mas as trocas de lâmpadas têm sido problemáticas. Foi prometida a troca de todas as lâmpadas por LED, depois disseram que seria apenas nos principais corredores da cidade, mas nada foi cumprido. Além disso, o canal 0800 está defasado, e hoje nem o prazo de 72 horas para substituição de lâmpadas queimadas é respeitado. Isso gera muitos problemas à população, pois iluminação pública é mais que zeladoria: é segurança e mobilidade para cada cidadão.
Em Vinhedo, falta um mapeamento eficiente para resolver esse problema. Depois de muitas solicitações, só agora trocaram as lâmpadas na Nove de Julho, mas é insuficiente. O mesmo ocorre em todas as demais regiões da cidade.
Para encerrar: qual é a sua principal motivação hoje na política?
Luiz Vieira: minha motivação é a indignação. Mas uma indignação ativa, que busca soluções. A política precisa ser mais próxima, mais presente e mais eficiente. Precisamos de coragem para enfrentar temas difíceis, como a saúde, a inclusão, o saneamento e a mobilidade urbana. Não estou aqui para agradar quem está perpetuado no poder, mas para ajudar a transformar a cidade de Vinhedo, representando legitimamente aqueles que confiaram a mim o seu voto.
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